O Brasil, com toda sua força e grandeza, mesmo assim, sofreu também as
tentações de um golpe do Congresso Nacional contra Lula em 2005.
A nota de repúdio feita pelo
Diretório Nacional do PT expressa nossa oposição dura ao golpe de estado que
depôs o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. No sistema político paraguaio, o
presidente é eleito diretamente pelo povo. Não é legítimo, portanto, que ao
perder uma maioria parlamentar ele seja cassado. A atitude do Congresso
paraguaio foi na verdade cassar a soberania popular.
Se olharmos o tamanho da economia e
da população, a composição das forças econômicas e sociais, as lideranças
políticas, e as bases populares organizadas, é enorme a distância do Paraguai
em relação ao Brasil. Mas, somos todos latino-americanos. Há pontos de
igualdade entre nós. Principalmente o sistema econômico capitalista com todas
as suas consequências e o jeito como agem as elites ricas. O grande capital
rentista, industrial, comercial, rural, não aceita perder o poder para
lideranças das classes populares. Se acontece, ele tolera por certo tempo, mas
não tira da cabeça e não para de agir para a reconquista do poder. De outro
lado, há uma efervescência e luta constante das classes populares para
conquistas econômicas, sociais e, finalmente, políticas.
Nos anos de 1970 e 80, as elites na
América Latina se respaldaram em regra nas Forças Armadas para manter o poder.
Com o fim da Guerra Fria, as Forças Armadas se retraíram de sua participação
política. No Paraguai, agora, após a deposição-relâmpago do presidente pelo
Parlamento, o comando das Forças Armadas declarou que não interferia, “pois
este era um assunto dos políticos”. O golpe articulado pelas elites foi obra
agora do Parlamento, com a bênção do Judiciário. É a nova modalidade em uso de
“golpe legal”, já antes praticada em Honduras.
As elites ricas, onde hoje não
controlam o Executivo, voltaram a ter no Parlamento Nacional seu principal
ponto de sustentação institucional. Além disso, através da poderosa mídia
privada, seu principal guia ideológico e voz junto ao povo, elas continuamente
instigam a opinião pública contra os governos populares.
O Brasil, com toda sua força e
grandeza, mesmo assim, sofreu também as tentações de um golpe do Congresso
Nacional contra Lula em 2005, no auge da CPI do chamado mensalão. Portanto, não
esqueçamos nossa natureza latino-americana.
Aquela intenção de golpe das elites
ricas brasileiras via Congresso não prosperou por três razões essenciais: a
força e o enraizamento popular das organizações políticas e sociais que levaram
a esquerda ao governo; a sua unidade em torno da liderança do presidente; a
linha estratégica do PT e do governo de fazer aliança com setores políticos
significativos das elites ( uma parte do grande capital, o PMDB e Sarney, o PP
e Maluf, etc). Diante deste quadro, as elites ricas sentiram o cheiro do
fracasso e recuaram. Não tinham unidade para avançar contra o poder popular e o
temiam.
No Paraguai, as notícias indicam que
não havia nenhum destes três fatores para sustentar no governo o bispo
originário da Teologia da Libertação.
As fortíssimas resistências à reforma
política no Brasil, que pode afastar o peso do financiamento da política pelas
elites ricas e, portanto, diminuir sua força no seu baluarte, o Parlamento,
mostram o quanto esta classe social privilegiada é consciente de onde reside
sua principal força nas instituições atualmente. Não é por acaso que a grande
mídia e os partidos dominados pelas elites ricas não querem no Brasil a reforma
política proposta pela esquerda. A que eles querem, distritalizar a eleição de
deputados e manter o financiamento privado, é para garantir maioria no
Parlamento.
As alianças com partidos
conservadores, que o PT e nossos governos nacionais fizeram, incomodam as
elites ricas e seus líderes ideológicos porque asseguram estabilidade aos
governos de esquerda. Foi um dos ingredientes, não o único, que faltou para
sustentar o presidente Lugo no Paraguai. Faltava-lhe também um partido forte,
com profundo enraizamento popular, e um movimento social organizado com grande
peso político na sociedade. Não podemos criticar Lugo por isso. Ele fez a sua
parte, e merece toda nossa solidariedade e apoio.
Elói Pietá é secretário geral nacional do Partido dos Trabalhadores
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