quinta-feira, 28 de junho de 2012

O que temos a ver com o Paraguai e ele conosco, por Elói Pietá



O Brasil, com toda sua força e grandeza, mesmo assim, sofreu também as tentações de um golpe do Congresso Nacional contra Lula em 2005.


A nota de repúdio feita pelo Diretório Nacional do PT expressa nossa oposição dura ao golpe de estado que depôs o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. No sistema político paraguaio, o presidente é eleito diretamente pelo povo. Não é legítimo, portanto, que ao perder uma maioria parlamentar ele seja cassado. A atitude do Congresso paraguaio foi na verdade cassar a soberania popular.
Se olharmos o tamanho da economia e da população, a composição das forças econômicas e sociais, as lideranças políticas, e as bases populares organizadas, é enorme a distância do Paraguai em relação ao Brasil. Mas, somos todos latino-americanos. Há pontos de igualdade entre nós. Principalmente o sistema econômico capitalista com todas as suas consequências e o jeito como agem as elites ricas. O grande capital rentista, industrial, comercial, rural, não aceita perder o poder para lideranças das classes populares. Se acontece, ele tolera por certo tempo, mas não tira da cabeça e não para de agir para a reconquista do poder. De outro lado, há uma efervescência e luta constante das classes populares para conquistas econômicas, sociais e, finalmente, políticas.
Nos anos de 1970 e 80, as elites na América Latina se respaldaram em regra nas Forças Armadas para manter o poder. Com o fim da Guerra Fria, as Forças Armadas se retraíram de sua participação política. No Paraguai, agora, após a deposição-relâmpago do presidente pelo Parlamento, o comando das Forças Armadas declarou que não interferia, “pois este era um assunto dos políticos”. O golpe articulado pelas elites foi obra agora do Parlamento, com a bênção do Judiciário. É a nova modalidade em uso de “golpe legal”, já antes praticada em Honduras.
As elites ricas, onde hoje não controlam o Executivo, voltaram a ter no Parlamento Nacional seu principal ponto de sustentação institucional. Além disso, através da poderosa mídia privada, seu principal guia ideológico e voz junto ao povo, elas continuamente instigam a opinião pública contra os governos populares. 
O Brasil, com toda sua força e grandeza, mesmo assim, sofreu também as tentações de um golpe do Congresso Nacional contra Lula em 2005, no auge da CPI do chamado mensalão. Portanto, não esqueçamos nossa natureza latino-americana.
Aquela intenção de golpe das elites ricas brasileiras via Congresso não prosperou por três razões essenciais: a força e o enraizamento popular das organizações políticas e sociais que levaram a esquerda ao governo; a sua unidade em torno da liderança do presidente; a linha estratégica do PT e do governo de fazer aliança com setores políticos significativos das elites ( uma parte do grande capital, o PMDB e Sarney, o PP e Maluf, etc). Diante deste quadro, as elites ricas sentiram o cheiro do fracasso e recuaram. Não tinham unidade para avançar contra o poder popular e o temiam.
No Paraguai, as notícias indicam que não havia nenhum destes três fatores para sustentar no governo o bispo originário da Teologia da Libertação.
As fortíssimas resistências à reforma política no Brasil, que pode afastar o peso do financiamento da política pelas elites ricas e, portanto, diminuir sua força no seu baluarte, o Parlamento, mostram o quanto esta classe social privilegiada é consciente de onde reside sua principal força nas instituições atualmente. Não é por acaso que a grande mídia e os partidos dominados pelas elites ricas não querem no Brasil a reforma política proposta pela esquerda. A que eles querem, distritalizar a eleição de deputados e manter o financiamento privado, é para garantir maioria no Parlamento.
As alianças com partidos conservadores, que o PT e nossos governos nacionais fizeram, incomodam as elites ricas e seus líderes ideológicos porque asseguram estabilidade aos governos de esquerda. Foi um dos ingredientes, não o único, que faltou para sustentar o presidente Lugo no Paraguai. Faltava-lhe também um partido forte, com profundo enraizamento popular, e um movimento social organizado com grande peso político na sociedade. Não podemos criticar Lugo por isso. Ele fez a sua parte, e merece toda nossa solidariedade e apoio.
Elói Pietá é secretário geral nacional do Partido dos Trabalhadores

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